Onde uma tem
O cetim
A outra tem a rudeza
Onde uma tem
A cantiga
A outra tem a firmeza
Tomba o cabelo
Nos ombros
O suor pela
Barriga
Onde uma tem
A riqueza
A outra tem
A fadiga
Tapa a nudez
Com as mãos
Procura o pão
Na gaveta
Onde uma tem
O vestígio
Tem a outra
A pele seca
Enquanto desliza
O fato
Pega a outra na
Enxada
Enquanto dorme
Na cama
A outra arranja-lhe
A casa
Maria Teresa Horta in Pequena Cantiga à Mulher
1 comentário:
Ver-te ontem foi maravilhoso. Não sabes como povoas os meus pensamentos, foi procurar um poema para te enviar e encontrei este poema do Fortes que retrata bem o amor impossível, utópico, sublime. Tem muito a haver com aquilo que sinto por ti nestes ultimos anos, tem muito a haver com o sitio de aonde te vejo, a ilha "depois das lágrimas" aonde nos podemos encontrar. Não tenho o teu mail, por acaso hoje, descobri o teu blog. Gosto muito de ti!Toma é para ti!
Alguma coisa onde tu parada
fosses depois das lágrimas uma ilha
e eu chegasse para dizer-te adeus
de repente na curva duma estrada
alguma coisa onde a tua mão
escrevesse cartas para chover
e eu partisse a fumar
e o fumo fosse para se ler
alguma coisa onde tu ao norte
beijasses nos olhos os navios
e eu rasgasse o teu retrato
para vê-lo passar na direcção dos rios
alguma coisa onde tu corresses
numa rua com portas para o mar
e eu morresse
para ouvir-te sonhar
António José Forte
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